domingo, 20 de julho de 2025

Duas incidências (ou mais) no exame de Raios-X

Por que realizar duas ou mais incidências radiográficas é essencial para um diagnóstico seguro?

Na prática da Radiologia Médica, um dos princípios fundamentais para alcançar um diagnóstico preciso é a realização de duas ou mais incidências radiográficas. Esse cuidado técnico, embora pareça simples, faz toda a diferença na interpretação correta das imagens e na segurança do paciente.


O que são incidências radiográficas?


Incidências radiográficas são os diferentes ângulos ou posições em que as imagens são obtidas. Cada incidência oferece uma visão única da anatomia, permitindo ao médico radiologista observar estruturas sobrepostas de forma separada e tridimensional.


Por exemplo, em uma radiografia do tornozelo, é comum realizar pelo menos duas incidências: uma ântero-posterior (AP) e uma lateral. Enquanto a primeira mostra as estruturas de frente, a segunda revela detalhes de perfil, que podem passar despercebidos em apenas uma imagem.


A importância de múltiplas incidências


1. Evita diagnósticos incompletos ou equivocados:

Uma única imagem pode mascarar fraturas, luxações ou lesões em tecidos moles. Com duas ou mais incidências, a chance de "esconder" uma alteração é muito menor.

2. Permite avaliação tridimensional:

Como a radiografia é uma técnica bidimensional, é necessário obter imagens em diferentes planos para "reconstruir mentalmente" a profundidade e a localização exata das estruturas anatômicas.

3. Aumenta a segurança clínica:

Especialmente em situações de trauma, a confirmação de achados em mais de uma incidência garante maior confiabilidade ao laudo e contribui diretamente para o tratamento adequado do paciente.

4. É um padrão técnico estabelecido:

As diretrizes de sociedades de radiologia em todo o mundo recomendam, como boa prática, a obtenção de pelo menos duas incidências ortogonais (em ângulos de 90° entre si), exceto em casos muito específicos.


Casos clássicos em que múltiplas incidências são indispensáveis:


Fraturas ósseas: Muitas fraturas só são visíveis em uma determinada posição.

Radiografias torácicas: As incidências PA (póstero-anterior) e lateral ajudam a localizar nódulos, avaliar áreas de consolidação pulmonar e delimitar lesões mediastinais.

Coluna vertebral: Incidências AP, lateral e oblíquas são fundamentais para avaliar desalinhamentos, espondilólises e estenoses.


Conclusão


A Radiologia Médica não se resume a “tirar uma chapa”. Cada exame é planejado com base na queixa clínica e nas diretrizes técnicas que asseguram a qualidade diagnóstica. Portanto, realizar duas ou mais incidências radiográficas não é exagero: é cuidado, precisão e responsabilidade com o paciente.

quarta-feira, 16 de julho de 2025

Cortes anatômicos: plano médio sagital, coronal e axial

A importância no estudo da anatomia e na Radiologia Médica

No estudo da anatomia, compreender os planos de corte é essencial para reconhecer, localizar e descrever estruturas corporais de forma precisa. Os três principais planos são: plano médio sagital, plano coronal e plano axial (também chamado de transversal). Cada um deles oferece uma maneira única de visualizar e entender a organização do corpo humano.


Plano médio sagital

É o plano vertical que divide o corpo exatamente ao meio, em metades direita e esquerda. É especialmente útil para analisar estruturas simétricas, como o sistema nervoso central, e para compreender relações anatômicas ao longo da linha mediana, como o septo nasal ou o corpo caloso no cérebro.


Plano coronal

Também chamado de frontal, é um plano vertical, mas que divide o corpo em partes anterior (frontal) e posterior (dorsal). Esse corte é amplamente utilizado para observar órgãos e estruturas no tórax e abdômen, permitindo uma visão clara de relações entre pulmões, coração e coluna vertebral, por exemplo.


Plano axial ou transversal

É o plano horizontal que separa o corpo em partes superior (cranial) e inferior (caudal). Na prática clínica e nos exames de imagem, este é um dos planos mais utilizados, pois permite analisar cortes sucessivos de forma detalhada, identificando desde pequenas lesões até a extensão de órgãos.


A importância dos planos no estudo da anatomia

Estudar a anatomia usando esses cortes é fundamental para compreender a disposição tridimensional das estruturas corporais. Eles ajudam a visualizar órgãos que estão em diferentes profundidades, facilitando a aprendizagem e permitindo que estudantes e profissionais de saúde interpretem melhor as relações anatômicas.


Por exemplo, ao estudar o encéfalo, os cortes coronais permitem analisar os hemisférios e estruturas profundas como os ventrículos; já os cortes sagitais ajudam a entender o corpo caloso, o tronco encefálico e o cerebelo em relação à linha média.


Aplicação dos cortes anatômicos na Radiologia Médica

Na Radiologia Médica, os planos de corte são a base para aquisição, reconstrução e interpretação de exames como a Tomografia Computadorizada (TC) e a Ressonância Magnética (RM).


Plano axial: tradicionalmente, é o plano principal de aquisição dos exames, permitindo cortes sucessivos do corpo e facilitando a avaliação detalhada de órgãos internos, vasos e articulações.


Plano coronal: útil para complementar a análise, especialmente na avaliação de estruturas que se estendem no sentido crânio-caudal, como a coluna vertebral ou os seios paranasais.


Plano sagital: essencial para visualizar estruturas da linha média, como a hipófise, a medula espinhal ou a próstata.


Os sistemas modernos de imagem permitem reconstruir exames em múltiplos planos (reconstruções multiplanares), oferecendo uma visão tridimensional completa do corpo. Isso torna possível diagnosticar doenças com mais precisão e planejar cirurgias de forma mais segura.


Conclusão

Conhecer os cortes anatômicos não é apenas uma exigência acadêmica, mas uma habilidade prática indispensável para a interpretação correta das imagens médicas e para a prática clínica segura. São eles que conectam a anatomia aprendida nos livros com a anatomia “viva” observada nas imagens radiológicas.

sexta-feira, 4 de julho de 2025

Marie Curie e Radiologia

A pioneira que transformou a radiologia médica

Quando pensamos na história da radiologia médica, é impossível não lembrar de Marie Curie — uma cientista visionária cuja paixão pela ciência mudou para sempre os caminhos da medicina.


Uma trajetória marcada por descobertas revolucionárias


Marie Curie nasceu em 1867, na Polônia, e dedicou sua vida ao estudo da física e da química. Junto com seu marido, Pierre Curie, ela descobriu dois elementos radioativos: polônio e rádio. Seu trabalho com a radioatividade — termo que ela mesma cunhou — abriu portas para diversas aplicações científicas e médicas.


Essas descobertas valeram a Marie Curie dois prêmios Nobel: o de Física (1903, compartilhado com Pierre Curie e Henri Becquerel) e o de Química (1911), por suas pesquisas sobre o rádio e o polônio. Ela foi a primeira pessoa a receber dois prêmios Nobel em áreas diferentes.


O impacto direto na medicina


A descoberta do rádio permitiu que a comunidade científica começasse a explorar as propriedades terapêuticas e diagnósticas da radiação. Marie Curie percebeu que a radiação poderia ser utilizada não apenas para estudar a matéria, mas também para tratar doenças como o câncer, dando início ao que mais tarde se tornaria a radioterapia.


Durante a Primeira Guerra Mundial, Marie Curie teve outro gesto pioneiro: desenvolveu e coordenou um projeto para equipar ambulâncias com aparelhos de raios-X, criando as chamadas "petites Curies". Com esses veículos, ela e sua equipe conseguiram levar exames radiológicos ao campo de batalha, ajudando a diagnosticar fraturas, localizar projéteis e salvar a vida de milhares de soldados.


O legado para a radiologia médica


O trabalho de Marie Curie foi fundamental para consolidar o uso da radiação na medicina. Graças a suas descobertas, foi possível desenvolver técnicas que hoje são indispensáveis para o diagnóstico e tratamento de diversas doenças.


Além de suas contribuições científicas, Marie Curie também quebrou barreiras importantes para as mulheres na ciência, tornando-se símbolo de perseverança, coragem e dedicação.


Conclusão


A radiologia médica moderna deve muito a Marie Curie. Sua visão e suas descobertas abriram caminho para que tecnologias como os exames de raios-X, a tomografia computadorizada e a radioterapia se tornassem realidade. Mais do que isso, sua história nos lembra do poder transformador da ciência quando unida à determinação e ao espírito humanitário.