quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Cuidados Especiais para Mulheres na Radiologia Médica

 

A Radiologia Médica é uma área essencial no diagnóstico por imagem, que exige atenção redobrada quanto à proteção radiológica de todos os profissionais. No entanto, para as mulheres, especialmente durante a gestação, alguns cuidados adicionais são indispensáveis para garantir a segurança pessoal e do bebê.


Exposição Ocupacional e Normas de Proteção

As radiações ionizantes utilizadas em exames radiológicos podem trazer riscos à saúde caso não haja a devida proteção. A legislação brasileira, por meio da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e da Norma Regulamentadora NR-32, estabelece limites rigorosos de dose ocupacional e diretrizes específicas para trabalhadores expostos.


De forma geral, a dose efetiva anual para profissionais de Radiologia não deve ultrapassar 20 mSv em média, ao longo de cinco anos. Para gestantes, esse limite é ainda mais restritivo, a dose equivalente para o feto não pode ultrapassar 1 mSv durante toda a gestação.


Cuidados Especiais para Mulheres em Idade Reprodutiva

Uso adequado dos equipamentos de proteção individual (EPIs): o avental plumbífero, protetores de tireoide e óculos de proteção devem ser utilizados corretamente em todas as situações de risco.

Monitoramento individual: o uso do dosímetro é obrigatório, sendo importante que seja posicionado na altura do tronco, sob o avental, para melhor avaliação da dose recebida.

Educação continuada: manter-se atualizada quanto às normas de biossegurança e proteção radiológica é fundamental para reduzir riscos.


Atenção Redobrada Durante a Gestação

Quando a profissional comunica formalmente sua gestação ao serviço, a instituição tem a obrigação de adotar medidas de proteção específicas:


Readequação de atividades: sempre que possível, a gestante deve ser realocada para funções administrativas, de planejamento ou supervisão, minimizando sua exposição direta.

Restrição de áreas de risco: o acesso a setores com altas cargas de trabalho radiológico, como salas de fluoroscopia e hemodinâmica, deve ser evitado.

Monitoramento diferenciado: o dosímetro deve ser posicionado na região abdominal, sob o avental plumbífero, para estimar com precisão a dose recebida pelo feto.


Conclusão

A atuação das mulheres na Radiologia Médica é cada vez mais expressiva, trazendo contribuições valiosas à área da saúde. Entretanto, é fundamental que as instituições garantam ambientes de trabalho seguros, respeitando as normas de radioproteção e assegurando atenção especial às gestantes.


A proteção radiológica não é apenas uma exigência legal, mas um compromisso ético com a saúde da profissional, do bebê e da equipe como um todo.

sábado, 13 de setembro de 2025

Características Técnicas de uma Sala de Raios-X e sua Relevância na Proteção Radiológica

A sala de Raios-X é o ambiente projetado especificamente para abrigar equipamentos emissores de radiação ionizante. Sua concepção segue parâmetros normativos que garantem não apenas a qualidade dos exames de imagem, mas também a proteção radiológica dos pacientes, profissionais e do público em geral.


Requisitos construtivos e blindagem

Materiais de blindagem: As paredes, portas e janelas devem possuir equivalência de atenuação calculada em milímetros de chumbo (mmPb). Em muitos casos, utiliza-se o chumbo metálico em chapas, mas também podem ser aplicados revestimentos como argamassa baritada ou vidros plumbíferos.

Cálculo de barreiras: O dimensionamento da blindagem é realizado com base em parâmetros como carga de trabalho (mA·min/semana), uso da área adjacente, fator de ocupação, distância foco-barreira e fator de uso do feixe. Esses cálculos asseguram que as doses fora da sala estejam dentro dos limites estabelecidos pela CNEN NN 3.01 e pelas normas da ANVISA (RDC 330/2019 e RDC 611/2022).

Porta de acesso: Deve conter folha plumbífera ou equivalente, com sinalização de advertência de radiação ionizante visível externamente.


Layout e compartimentação

Sala de exame: Espaço destinado ao paciente e ao equipamento radiográfico. O dimensionamento deve permitir movimentação segura, posicionamento correto e utilização de acessórios (grades, suportes, mesas basculantes, etc.).

Sala de comando: Local protegido por barreira secundária, geralmente com janela de vidro plumbífero, de onde o Técnico em Radiologia aciona o equipamento. O comando deve estar posicionado de forma a manter contato visual direto com o paciente.

Sistema elétrico e aterramento: A instalação deve contemplar rede elétrica estabilizada, aterramento adequado e dispositivos de proteção contra sobrecarga, garantindo segurança operacional e estabilidade do equipamento.


Condições ambientais

Ventilação e climatização: Sistemas adequados evitam superaquecimento do equipamento e asseguram conforto ao paciente.

Iluminação: Deve ser homogênea e suficiente para posicionamento e preparo, sem prejudicar a leitura de comandos digitais.

Acabamentos: Pisos e paredes com superfícies lisas e laváveis, visando à biossegurança e à fácil higienização.


Importância para a proteção radiológica

1. Minimização de exposição ocupacional: O planejamento estrutural garante que o profissional não esteja exposto diretamente ao feixe primário ou secundário, atendendo ao princípio ALARA (As Low As Reasonably Achievable).

2. Redução de doses em áreas adjacentes: A blindagem adequada evita que radiações de fuga atinjam trabalhadores de outros setores ou o público.

3. Qualidade de imagem e repetição de exames: O ambiente projetado de forma correta favorece a operação estável do equipamento, reduzindo a necessidade de repetições e, consequentemente, a dose no paciente.

4. Conformidade legal e auditorias: O cumprimento das normas da CNEN e da ANVISA é requisito obrigatório em auditorias sanitárias e processos de licenciamento.


Conclusão

A sala de Raios-X é resultado de cálculos radiométricos, normas de engenharia e princípios de radioproteção. Sua concepção adequada não apenas garante segurança, mas também assegura qualidade diagnóstica e conformidade regulatória, consolidando-se como um pilar essencial na prática da Radiologia Médica.

terça-feira, 5 de agosto de 2025

Efeito Fotoelétrico e Efeito Compton na Radiologia

A Base da Formação da Imagem Radiográfica


Na Radiologia Médica, a produção e interpretação das imagens dependem diretamente da interação dos Raios-X com a matéria, em especial com os tecidos do corpo humano. Dentre os diversos tipos de interações possíveis, dois fenômenos se destacam por sua relevância na formação da imagem: o efeito fotoelétrico e o efeito Compton.


1. Efeito Fotoelétrico

O efeito fotoelétrico ocorre quando um fóton de raio-X colide com um elétron de uma camada interna do átomo (geralmente a camada K) e transfere toda a sua energia para este elétron, ejetando-o do átomo. Nesse processo:


✓ O fóton de raio-X desaparece.

✓ O elétron ejetado é chamado de elétron fotoelétrico.

✓ O átomo fica ionizado e tende a se estabilizar liberando radiação secundária (radiação característica).


Na radiologia, o efeito fotoelétrico é fundamental para o contraste da imagem, pois ocorre preferencialmente em tecidos de maior número atômico (como os ossos, ricos em cálcio). Assim, áreas mais densas absorvem mais fótons e aparecem mais claras na radiografia.

Este efeito é mais provável com fótons de baixa energia (kVp mais baixo) e é predominante em exames onde o contraste anatômico é essencial, como radiografias de extremidades e mamografias.


2. Efeito Compton

O efeito Compton acontece quando um fóton de raio-X interage com um elétron de uma camada mais externa do átomo, transferindo parte da sua energia. O fóton não desaparece, mas muda de direção e perde energia, originando um fóton espalhado (radiação secundária de espalhamento) - O elétron que recebe energia é ejetado, chamado de elétron de recuo.


Na radiologia, o efeito Compton é responsável pelo espalhamento da radiação, o que pode prejudicar a qualidade da imagem e aumentar a dose desnecessária ao paciente e à equipe.


Este efeito ocorre com mais frequência em tecidos de baixo número atômico (como músculos e gordura) e com fótons de maior energia (kVp mais alto).


3. A Relação entre os Dois Efeitos na Formação da Imagem


Na prática radiológica:

✓ O efeito fotoelétrico contribui positivamente para o contraste e a nitidez da imagem.

✓ O efeito Compton é indesejado, pois gera radiação espalhada, diminuindo a qualidade da imagem e aumentando a exposição desnecessária.


Por isso, o radiologista e o técnico/ tecnólogo em radiologia buscam equilibrar o kVp:


Se muito baixo → predomina o efeito fotoelétrico, mas aumenta a dose ao paciente.

Se muito alto → predomina o efeito Compton, piorando o contraste e aumentando o espalhamento.


O uso de grades antidifusoras, colimação adequada e proteção radiológica são estratégias importantes para minimizar o impacto negativo do espalhamento.


Conclusão


Entender o efeito fotoelétrico e o efeito Compton é essencial para compreender como se formam as imagens radiográficas e como otimizar os parâmetros técnicos para obter o melhor equilíbrio entre qualidade de imagem e segurança radiológica.

Enquanto o fotoelétrico é nosso aliado para criar contraste e detalhe, o Compton exige atenção para que seu impacto seja controlado.